Era dia 31 de dezembro de 2007, às 9:45 levantei-me, e a primeira coisa que fiz foi ligar o computador, não tinha dormido bem de noite, algo não me deixava fechar os olhos, e quando entro na internet, vem a notícia de que você foi para um lugar melhor. Nunca me esqueço, o dia em que fostes para o hospital, enquanto eu me divertia com meus amigos na pizzaria, você estava entrando na ambulância pela última vez, dando um último adeus à sua casa, nossa rua, nosso bairro sem saber, e eu desacreditando, pensando que logo estarias de volta, e passarias um ano novo conosco, porém, dia 30 as esperanças acabavam aos poucos, quando não tinhas mais horários de visita, podendo entrar-se a hora que quiser, e mesmo assim, você sairia dessa, eu acreditava, não importou-me te ver agonizando na cama, sem saber se estavas podendo nos ouvir, nos ver, entender o que falávamos, se saberias que estávamos ali, pois sabia, pois acreditava que você sairia dessa, com um sorriso no rosto, como sempre fez, e por isso, meu silêncio, o medo de te desencorajar, de te fazer pensar que eu estava esperando sua partida, enquanto na verdade, eu estava querendo que você se levantasse, e nos mostrasse mais uma vez, que tudo aquilo não era nada, e sim apenas mais um dos sustos que você nos dava, porém, ao acordar, logo após de conseguir dormir com dificuldade, devido a uma insônia, você partiu, deixou-nos para ir a algum lugar melhor, o qual você mereceu depois de tanta força. Uma tempestade dominou os céus, mas não tinha chuva, enquanto seu corpo era velado, um vento forte batia, as árvores balançavam, todos choravam, e eu ainda não acreditando, sabia, eu pensava, que você levantaria do caixão com aquele seu jeito de nos assustar e fazer-nos rir, e reclamaria dos algodões presos em seu nariz, mas ao olhar para o seu peito, ver que você não respirava, não se mexia, estava parado, a ficha caiu aos poucos, e as lágrimas vieram, enquanto chorava na varanda, vendo o céu escuro e a tempestade que se aproximava, notei uma presença que me fez parar de chorar, e ver que a tempestade não veio para o mal, era uma tempestade amiga, uma tempestade calma, e logo, quando todos se preparavam para levar-te ao teu túmulo, caiu a tão esperada chuva, mas não a chuva que nos deixa ensopados, e sim, que nos molha e nos faz bem, aquele ar fresco, brisa leve, e uma chuva gostosa caia sobre seu caixão, e enquanto os coveiros tampavam seu túmulo, todos iam embora, chorando por você, e eu ali, parado sem saber o que fazer, apenas querendo ter a certeza de que não sairias dali, não por te ver enterrado de uma vez, e sim por ainda ter esperanças de ouvir um grito, um pedido de ajuda, para te tirar dali, e quando a última tampa foi colocada, as esperanças acabaram, a chuva diminuiu, e logo a tempestade foi-se embora. Ao ir embora, visito uma amiga, e pego sua irmãzinha no colo, levo-a na varanda e a primeira coisa que noto é um belo arco-íris que enquanto tentava mostrá-lo à pequena, a mesma apontava para o outro lado, o qual eu não estava olhando, e com muita insistência, ela faz-me ver um lindo céu vermelho, o melhor pôr do sol que já vi, o qual nunca me esqueço, o qual mostrou-me que fostes bem recebido, o qual fez-me enxergar que nem toda tempestade vem para destruir, que nem toda chuva vem para molhar, e mesmo assim um céu vermelho sempre irá se criar, aliás, seu maior desejo era tomar um banho de chuva pela última vez mesmo não?
''Lembro de um por um que rezou em volta do seu caixão
e depois o homenageou na palma da mão
Foi um dos poucos que fez parte da minha vida
Eu, conto sua vida em ditos, ou frases jamais escritas
Muito obrigado por estar com você um dia
Você faz mó falta, valeu Gueda.''